Diário do Ateliê

 

Esta peça é um livro-obra construído apenas com sobras de papel e restos de tinta das aulas do Cedro da Gávea Ateliê. Ao final da aula, os alunos levam para as suas casas o que consideram o seu melhor. O que é sobra, fica aqui. São muitos rascunhos, pedaços de papel cortados e paletas ainda com tinta. Observo estas sobras e vejo o processo de cada um. É como se eles saíssem e, distraidamente, deixassem o melhor pedaço do bolo de presente para mim.

Ao interferir no material, aprendo também com a experiência do outro, agradeço e honro a presença de cada um. Penso nas pessoas-anjo que cuidam e protegem o nosso espaço, nas pessoas-lamparina que iluminam o nosso caminho, nas pessoas-cobertor que esquentam nossos corações.  E como eu fico feliz quando elas tocam a campainha. A chegada do aluno é o acontecimento que faz os dias no ateliê serem especiais. Tem quem chegue com um bolo e tem quem chegue com um abraço. Tem uns que sempre trazem uma novidade ou uma historia para contar. Recebo todos de coração aberto. Até os que estão afobados, cansados ou com fome, chegam dispostos a trocar afeto, conhecimento e experiência.

Esta troca de experiências é um universo que se abre e me sugasse para o desconhecido, para o maravilhoso. Amo muito tudo isso e retribuo com o meu melhor. Sinto que a troca de conhecimento e o autoconhecimento, expandem minha consciência e me fazem parte de um todo. O todo que nos protege.

Este livro foi construído pelo todo. Ele contém o acaso criativo do grupo sob o meu olhar, individual. Cada composição é um encontro. O que era sobra virou essência, sem começo nem fim. Eu poderia fazê-lo até o céu. Construiria de pedacinho em pedacinho uma escada infinita. São pedacinhos de gente que generosamente dividem comigo o seu tempo. Tempo precioso para apenas estar aqui. Meu trabalho foi reunir e cuidar dos pedacinhos deixados de lado, grudando tudo com muito carinho.

Este livro não é meu, é da casa. É de todos que a frequentam e, também, dos que torcem por nós, dos que passam e dos que ficam. Aqui, papel e tinta foram transformados em experiências de vida.  Enquanto transformamos o material, a experiência nos transforma. E assim, seguimos criando e vivendo.

Cedro da Gávea é amor e experiência.